Baiana se torna primeira monja zen budista afro indígena em linhagem japonesa de mais de 700 anos; entenda
12/07/2025
(Foto: Reprodução) Monja conheceu o budismo durante curso na Faculdade Estadual de Feira de Santana. Cerimônia de ordenação ocorreu em templo da linhagem Soto Zen no Paraguai. Baiana se torna primeira monja zen budista afro indígena em linhagem japonesa
A baiana Rosali Eliguara Ynaê, de 39 anos, se tornou a primeira monja zen budista afro indígena em linhagem japonesa de mais de 700 anos. De acordo com a comunidade budista que ela faz parte, essa é a primeira vez que uma mulher com essas características se torna monja na linhagem Soto Zen. A cerimônia aconteceu no templo Shinōzan Takuonji, no Paraguai.
"Sai da realização individual para um compromisso coletivo. Sentia essa necessidade de algo a mais, de me colocar à disposição", contou Rosali, que após a cerimônia passou a ser chamada de Rōzen.
Cerimônia de ordenação aconteceu em templo budista no Paraguai
Arquivo pessoal
Rōzen nasceu em Salvador e cursou História na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), localizada na segunda maior cidade da Bahia. Foi na graduação que ela conheceu a doutrina espiritual e filosófica do budismo: na época, por volta de 2006, uma das professoras defendia uma tese de doutorado sobre o tema.
A partir disso, ela se interessou pela meditação e passou a estudar diversas linhagens do budismo até chegar na tradição japonesa Soto Zen.
🧘🏽♀️ A tradição Soto Zen do Budismo busca a iluminação através da prática meditativa. A principal prática é a "zazen", uma forma de meditação sentada que visa purificar a mente.
Entenda abaixo como a baiana se tornou a primeira monja afro indígena budista da linhagem japonesa Soto Zen:
🏹 Afro indígena
O pai de Rōzen tem ascendência Kariri Xocó. Na Bahia, o povo indígena se estabeleceu na cidade de Paulo Afonso, no norte do estado. Já a mãe da monja é sertaneja, branca e católica.
Criada nos bairros de Castelo Branco e Liberdade, na capital baiana, ela conviveu com a diversidade cultural e religiosa desde sempre e, ao longo da vida, se aproximou das religiões de matriz africana. Para Rōzen, é preciso valorizar os ancestrais e as referências.
"Axé e Zen são três letras de puro amor em ação no mundo", afirmou.
☸️ Budista
Após o primeiro contato com o budismo, ainda na faculdade, Rōzen estudou sobre a doutrina espiritual e filosófica, fez viagens e participou de diversos encontros ao redor do mundo.
Em 2024, a baiana soube do Templo Zen Budista Shinōzan Takuonji, em Yguazú, no Paraguai. Na ocasião, o local estava prestes a completar 10 anos de construção e receberia a visita do Bruno Shōei, Mestre Zen-budista brasileiro que viveu no Japão por nove anos.
Ao visitar o templo e a cidade de Yguazú, Rōzen ficou encantada com a comunidade, que surgiu após a imigração de imigrantes na Segunda Guerra Mundial. A comunidade manteve viva as tradições japonesas, como o cultivo das cerejeiras e a forma de ensino oriental.
"Fiquei encantada com a relação com a comunidade, era um pedacinho do Japão no Brasil. Eu olhei e pensei: 'acho que meu coração está em festa aqui'", relembrou.
Por causa desse sentimento, ela decidiu ficar no local e fez um curso de três meses, que envolveu muito estudo, convívio com a comunidade e prática de japonês e guarani. Ao fim, foi aceita como aprendiz do templo e ordenada em cerimônia que reuniu o dendê da Bahia e as tradições japonesas em terras paraguaias.
Cerimônia no Paraguai
Cerimônia de ordenação aconteceu em templo budista no Paraguai
Arquivo pessoal
A cerimônia no Templo Zen Budista Shinōzan Takuonji aconteceu em maio deste ano. A família de Rōzen viajou para o país para acompanhar a cerimônia que foi seguida de celebração com direito a sushi e acarajé.
"No dia da ordenação, meu filho fez acarajé e a comunidade japonesa levou sushi, cada um experimentou um pouco. Culturas diferentes podem caminhar juntas", disse.
Cardápio da celebração contava com sushi e acarajé
Arquivo pessoal
Para Rōzen, a diversidade é motivo de comemoração. Ao se tornar a primeira monja zen budista afro indígena nessa linhagem japonesa, a baiana deseja acessar pessoas que se sintam identificadas com sua história e características. "Quero abrir caminho para outras pessoas que se parecem comigo", afirmou.
Atualmente, Rōzen vive no templo no Paraguai, onde pratica meditação, dá aulas para crianças e faz atendimentos de acupuntura para a comunidade.
Templo Shinōzan Takuonji, no Paraguai.
Arquivo pessoal
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